INFORTÚNIO (CRÔNICA) 91s57

"Eram apenas dezessete horas de um dia de sexta-feira em um dos lugares mais festejados de uma pequena cidade de aproximadamente quarenta e cinco mil habitantes. eava e desfrutava do ar puro e da brisa que vinha das bandas do rio. Era um entardecer exuberante e tinha tudo para ser um belo eio no Contorno Beira Rio.

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 De repente deparo-me com uma triste cena, olho para a minha direita e vejo um grupo de alcoólatras dividindo entre si uma garrafa de álcool misturada com água turva do rio. Um pequeno amontoado de três ou quatro pessoas olham. E alguns comentam:

 - Bando de vagabundos, podendo ir trabalhar são uns preguiçosos!

- Verdade.

  Olho para a minha esquerda e vejo um aglomerado de pessoas que rodeiam uma enorme caixa de lixo localizada próxima ao mercado municipal. Todos fazem um esforço tremendo, mas conseguem virar o grande recipiente. São: crianças, adultos e idosos que se alegram com cada migalha que encontram. São os Madija (índios Kulinas) que perambulam pelas ruas da cidade. Jovens am e riem, não sei se da situação extrema vivida pelos nossos irmãos índios ou pelos trajes que vestiam.

  Olho a minha frente àbeira do rio, vejo um pequeno boi que ainda trabalhava a arrastar de cabeça baixasobre pancadas uma enorme carroça. Escorrega, cai, mas acaba subindo o barranco liso e cheio de argila.

   Na cena em que vi os alcoólatras, percebi a ignorância de nossa sociedade e o quanto se preocupam com os problemas sociais.

  Quando vi os índios a catar migalhas e serem motivo de risos e chacotas, observei como as pessoas se divertem com a infelicidade dos outros e desprezam os seus semelhantes.

  Ao ver o boi sofrendo, vi o desumano do ser humano, notei como as pessoas maltratam os animais que tanto os ajudam.

Por fim, voltei para casa pensado no que vi e senti. Triste, mas infelizmente é um pouco da realidade de nossa querida Feijó".

Carlos Ximenes, é escritor e professor licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Acre