Acre comemora 118 anos do início da Revolução Acreana 3943r
Historiador comenta legado da Revolução.'O acreano tem na sua identidade uma marca de luta', diz Marcus Vinícius.G1-AC 59483x
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"Não é festa, é revolução!". Com essa
frase dita ao comandante da Intendência boliviana em Xapuri (AC), Plácido de
Castro deu início à terceira tentativa de tornar independente o território do
Acre, no dia 6 de agosto de 1902, mesmo dia em que a Bolívia comemorava sua
libertação do domínio espanhol.
A escolha da data pode soar irônica, mas foi apenas
uma escolha estratégica de Castro, um gaúcho de 26 anos que já havia lutado na
Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul, alguns anos antes e estava no
território acreano para trabalhar como agrimensor.
Apesar do aniversário da Revolução Acreana ser
comemorado no dia 6 de agosto, a luta dos brasileiros, vindos na maioria da
região Nordeste do Brasil, para ocupar o território do Acre e torná-lo
independente da Bolívia começou anos antes.
"A Revolução é resultado de um longo processo
histórico que se vivia, não só no Acre como na Amazônia, que foi o primeiro ciclo
da borracha. A borracha se tornou tão valiosa quanto ouro, o que fez com que
milhares de brasileiros subissem os rios atrás. Por isso, o Acre foi
ocupado", explica o historiador Marcus Vinícius da Neves.
A ocupação do território acreano por brasileiros
começou por volta de 1880. Inicialmente o governo boliviano não deu muita
atenção, já que se tratava de uma região de difícil o e que até então, não
possuía grande importância econômica. Foi só quando o coronel boliviano José
Manuel Pando teve que se refugiar na região, após uma tentativa de golpe, que
se deu conta do tamanho da presença brasileira e buscou alertar o governo.
"Quando o governo da Bolívia, em 1899,
pretendeu se estabelecer no Acre e cobrar os impostos da borracha, houve uma
revolta brasileira que deu origem ao processo que a gente chama de Revolução
Acreana", conta Neves.
Galvez e as Repúblicas Independentes do Acre
A primeira insurreição contra o domínio espanhol,
ocorreu em julho de 1899, quando o jornalista e diplomata espanhol Luís Galvez
Rodriguez de Arias proclamou a República Independente do Acre. O governo de
Galvez durou apenas 100 dias, pois, ele foi destituído do cargo pelo Exército
brasileiro, que respeitando o Tratado de Ayacucho, assinado entre os dois
países em 1867, considerava o Acre território boliviano.
Em novembro do ano seguinte, uma nova insurreição.
Liderados pelo jornalista Orlando Correa Lopes um grupo de brasileiros tenta
novamente proclamar a República Independente do Acre. O movimento, que ficou
conhecido como "Expedição dos Poetas", devido o grande número de
jornalistas e literatos que a compunham, foi facilmente expulso do território
pelos bolivianos.
Independência
A chegada de Plácido de Castro ao Acre finalmente
mudou a sorte dos brasileiros que desejavam se estabelecer no território.
"Quando Plácido de Castro, à frente de um
exército de seringueiros, invade a cidade de Xapuri e a toma das autoridades,
dá início a última fase da Revolução Acreana. A fase mais sangrenta, que levou
os seringueiros a pegar em armas e ir a luta contra os bolivianos",
ressalta Marcus Vinícius.
Segundo o historiador, até hoje não é possível
saber com clareza quantas pessoas morreram no conflito e qual lado teve mais
perdas. Já que as histórias são divergentes.
"As fontes brasileiras aumentam a quantidade
de vítimas brasileiras, diminuem a de vítimas bolivianas, aumentam o número de
tropas bolivianas e diminuem a quantidade na tropa brasileira. E as fontes
bolivianas fazem o inverso. Eu estimo de maneira grosseira que cerca de 500
pessoas tenham morrido nos seis meses que duraram esses combates", diz.
Os combates da Revolução Acreana duraram seis meses
e terminaram janeiro de 1903 com a do Tratado de Petrópolis pelo
qual o Acre ou a ser reconhecido como parte do Brasil.
Toda essa história já foi contada em 'Amazônia de
Galvez a Chico Mendes', minissérie escrita pela novelista Glória Perez e que foi
ao ar na TV Globo, em 2007 ia ao ar.
Legado da Revolução
Para o historiador, mais que anexação do território
acreano ao Brasil, a Revolução deixou marcas culturais que podem ser notadas ao
longo dos últimos 112 anos.
"Foi uma luta contra os estrangeiros para que
o Acre se tornasse Brasil. Mas logo depois o governo brasileiro criou no Acre
um território federal e os acreanos foram novamente à luta para que tivessem
autonomia política e depois quando a Ditadura Militar veio querer moldar o Acre
e trazer os fazendeiros, houve novo momento de resistência dos seringueiros
contra a transformação da floresta em pasto. Ou seja, o acreano tem na sua
identidade uma marca de luta, resistência e defesa do Acre que permaneceu por
toda sua história e começa exatamente na Revolução Acreana", reflete.